03/08/2020
Pós-pandemia: veja os setores da economia que serão mais e menos impactados pela crise
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Com o relaxamento do isolamento social, comerciantes e prestadores de serviço retornaram às atividades. No entanto, em muitos setores, os negócios vão demorar a voltar ao patamar anterior à crise. De acordo com um estudo da consultoria Bip, feito por meio do cruzamento de informações de consumo e dados financeiros divulgados por cerca de 300 empresas, os setores de varejo de bens não essenciais; de combustíveis; de esportes; de entretenimento offline, como shows e eventos; e de aviação, turismo e hotelaria vão precisar praticamente reiniciar seus negócios, em um curva de retomada muito lenta.
Flávio Menezes, líder da Bip Brasil, acredita que a retomada do crescimento em níveis parecidos aos do pré-pandemia só acontecerá em 2022. Para tentar reduzir os prejuízos, ele acredita que as empresas têm dois caminhos:
— Com essa abundância de dados que existe hoje, é possível investir em serviços personalizados e com maior qualidade. A outra medida é enxugar o orçamento, reduzindo gastos com a adoção do home office e com a digitalização de processos.
Os setores de bens de consumo duráveis, de moda e beleza e as exportações do agronegócio — impactadas por restrições nas fronteiras durante a pandemia — também vão demorar para se recuperar. Já os negócios pautados em plataformas digitais — como o varejo alimentar, as farmácias online, a telemedicina, a educação digital e o entretenimento em streaming — continuarão crescendo de forma sustentável no pós-crise.
O setor de telecomunicações, por sua vez, que teve um impacto positivo no início da quarentena, com a migração do consumo do corporativo para o residencial, deve retomar a posição anterior à crise.
Digitalização inevitável
As empresas que já trabalhavam com tecnologia para vender seus produtos e serviços conseguiram ter menos impactos em seus negócios. Para o gerente de Conhecimento e Competitividade do Sebrae Rio, Cezar Kirszenblatt, os pequenos empreendedores que não enxergavam essa necessidade agora percebem a importância da digitalização:
— Quem já tinha e-commerce conseguiu sobreviver. Assim como os serviços de alimentação, que adaptaram sua dinâmica de trabalho utilizando meios digitais.
Após perder 50% das clientes, a Up Estética resolveu investir em um outro segmento e começou a vender cursos online para esteticistas.
— Para o consumidor final, a estética deixou de ser prioridade. Então, passamos a oferecer especializações a profissionais que estavam com tempo livre, sem trabalhar — disse o dono da empresa, Rodrigo Moraes.
Segundo ele, as aulas online começaram a ser gravadas em janeiro, e o lançamento estava previsto para 2021. No entanto, com a pandemia, foi necessário acelerar o processo:
— Já temos sete cursos, e o objetivo é encerrar o ano oferecendo 22. Como atrativo, oferecemos parcelamento em 12 vezes sem juros e tivemos uma adesão muito boa.
A Estácio, por sua vez, que já oferecia cursos a distância com vídeos gravados, usou a expertise para disponibilizar aulas online e ao vivo aos alunos presenciais ainda na primeira semana da quarentena, evitando assim muitos trancamentos de matrícula. Atualmente, a faculdade administra cerca de cinco mil aulas por dia, ministradas para mais de 300 mil alunos.
Adriano Pistore, vice-presidente de operações presenciais da Estácio, revela que, com a pandemia,a instituição antecipou investimentos em tecnologia e planos que estavam em desenvolvimento. Dessa forma, quando as aulas presenciais retornarem, todos os campi terão adaptações digitais.
— A palavra agora é somar, no sentido de pensar como é possível entregar mais digital em uma atividade de campo. Para isso, a Estácio já está revendo o desenho de sala de aula, a oferta de rede de wi-fi gratuito nas unidades, desenvolvendo novos aplicativos de aprendizagem para os alunos e novos ambientes virtuais — contou Pistore.
Grande impacto no segmento de serviços
O setor de serviços é um dos mais afetados, porque a pandemia provocou queda no orçamento familiar, fazendo com que consumissem menos supérfluos.
— Traçar um cenário de recuperação para esse setor é complicado, porque as famílias que têm em sua composição trabalhadores informais sofreram as maiores quedas, e ainda estamos no meio da crise. Essas pessoas ficam desconfiadas em termos de consumo, e o setor de serviços depende dessa vontade — afirmou Mayara Santiago, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
De acordo com pesquisa do Sebrae, os setores mais afetados foram o turismo e toda a sua cadeia produtiva, com queda no faturamento de 76%; a economia criativa, que engloba eventos, shows, feiras, cinema, com redução de 70%; e o ramo das academias, que perdeu 77% do seu faturamento.
A empresa Viva Eventos precisou adiar todas as festas de casamento e de formatura programadas. A postergação de pagamentos de eventos remarcados e o não fechamento de novos contratos logo refletiram no caixa.
A tramitação da Medida Provisória (MP) 948, que desobriga o reembolso de valores pagos pelo consumidor desde que o prestador cumpra o combinado em uma nova data, é vista como um alívio pelo diretor Renato Menezes.
— O mercado de eventos foi um dos mais afetados, junto com o de turismo. Foi um dos primeiros a parar e será um dos últimos a voltar totalmente à normalidade. É um mercado com mais de R$ 220 bilhões movimentados na economia, muito importante para o país. Essa MP ajudou a evitar o cancelamento de eventos, deu segurança para que as empresas continuassem em operação até o fim da pandemia — opinou.
Embora tenha realizado a convenção nacional, principal evento da rede, de modo 100% online, a empresa não fez nenhuma adaptação em seu modelo de negócios, pretendendo voltar a realizar as festas de formatura em formato presencial, assim que possível.
— Os eventos presenciais serão retomados assim que tivermos segurança para tal, sem colocar nenhuma vida em risco. Há muitas vacinas em testes, com estudos indicando a possibilidade de termos um imunizante já em novembro.No começo, teremos uma retomada mais lenta, mas estamos confiantes que retomaremos ainda mais fortes. Isso porque eventos geram experiências, e as pessoas estão sedentas por isso — concluiu Menezes.
Flávio Menezes, líder da Bip Brasil, acredita que a retomada do crescimento em níveis parecidos aos do pré-pandemia só acontecerá em 2022. Para tentar reduzir os prejuízos, ele acredita que as empresas têm dois caminhos:
— Com essa abundância de dados que existe hoje, é possível investir em serviços personalizados e com maior qualidade. A outra medida é enxugar o orçamento, reduzindo gastos com a adoção do home office e com a digitalização de processos.
Os setores de bens de consumo duráveis, de moda e beleza e as exportações do agronegócio — impactadas por restrições nas fronteiras durante a pandemia — também vão demorar para se recuperar. Já os negócios pautados em plataformas digitais — como o varejo alimentar, as farmácias online, a telemedicina, a educação digital e o entretenimento em streaming — continuarão crescendo de forma sustentável no pós-crise.
O setor de telecomunicações, por sua vez, que teve um impacto positivo no início da quarentena, com a migração do consumo do corporativo para o residencial, deve retomar a posição anterior à crise.
Digitalização inevitável
As empresas que já trabalhavam com tecnologia para vender seus produtos e serviços conseguiram ter menos impactos em seus negócios. Para o gerente de Conhecimento e Competitividade do Sebrae Rio, Cezar Kirszenblatt, os pequenos empreendedores que não enxergavam essa necessidade agora percebem a importância da digitalização:
— Quem já tinha e-commerce conseguiu sobreviver. Assim como os serviços de alimentação, que adaptaram sua dinâmica de trabalho utilizando meios digitais.
Após perder 50% das clientes, a Up Estética resolveu investir em um outro segmento e começou a vender cursos online para esteticistas.
— Para o consumidor final, a estética deixou de ser prioridade. Então, passamos a oferecer especializações a profissionais que estavam com tempo livre, sem trabalhar — disse o dono da empresa, Rodrigo Moraes.
Segundo ele, as aulas online começaram a ser gravadas em janeiro, e o lançamento estava previsto para 2021. No entanto, com a pandemia, foi necessário acelerar o processo:
— Já temos sete cursos, e o objetivo é encerrar o ano oferecendo 22. Como atrativo, oferecemos parcelamento em 12 vezes sem juros e tivemos uma adesão muito boa.
A Estácio, por sua vez, que já oferecia cursos a distância com vídeos gravados, usou a expertise para disponibilizar aulas online e ao vivo aos alunos presenciais ainda na primeira semana da quarentena, evitando assim muitos trancamentos de matrícula. Atualmente, a faculdade administra cerca de cinco mil aulas por dia, ministradas para mais de 300 mil alunos.
Adriano Pistore, vice-presidente de operações presenciais da Estácio, revela que, com a pandemia,a instituição antecipou investimentos em tecnologia e planos que estavam em desenvolvimento. Dessa forma, quando as aulas presenciais retornarem, todos os campi terão adaptações digitais.
— A palavra agora é somar, no sentido de pensar como é possível entregar mais digital em uma atividade de campo. Para isso, a Estácio já está revendo o desenho de sala de aula, a oferta de rede de wi-fi gratuito nas unidades, desenvolvendo novos aplicativos de aprendizagem para os alunos e novos ambientes virtuais — contou Pistore.
Grande impacto no segmento de serviços
O setor de serviços é um dos mais afetados, porque a pandemia provocou queda no orçamento familiar, fazendo com que consumissem menos supérfluos.
— Traçar um cenário de recuperação para esse setor é complicado, porque as famílias que têm em sua composição trabalhadores informais sofreram as maiores quedas, e ainda estamos no meio da crise. Essas pessoas ficam desconfiadas em termos de consumo, e o setor de serviços depende dessa vontade — afirmou Mayara Santiago, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
De acordo com pesquisa do Sebrae, os setores mais afetados foram o turismo e toda a sua cadeia produtiva, com queda no faturamento de 76%; a economia criativa, que engloba eventos, shows, feiras, cinema, com redução de 70%; e o ramo das academias, que perdeu 77% do seu faturamento.
A empresa Viva Eventos precisou adiar todas as festas de casamento e de formatura programadas. A postergação de pagamentos de eventos remarcados e o não fechamento de novos contratos logo refletiram no caixa.
A tramitação da Medida Provisória (MP) 948, que desobriga o reembolso de valores pagos pelo consumidor desde que o prestador cumpra o combinado em uma nova data, é vista como um alívio pelo diretor Renato Menezes.
— O mercado de eventos foi um dos mais afetados, junto com o de turismo. Foi um dos primeiros a parar e será um dos últimos a voltar totalmente à normalidade. É um mercado com mais de R$ 220 bilhões movimentados na economia, muito importante para o país. Essa MP ajudou a evitar o cancelamento de eventos, deu segurança para que as empresas continuassem em operação até o fim da pandemia — opinou.
Embora tenha realizado a convenção nacional, principal evento da rede, de modo 100% online, a empresa não fez nenhuma adaptação em seu modelo de negócios, pretendendo voltar a realizar as festas de formatura em formato presencial, assim que possível.
— Os eventos presenciais serão retomados assim que tivermos segurança para tal, sem colocar nenhuma vida em risco. Há muitas vacinas em testes, com estudos indicando a possibilidade de termos um imunizante já em novembro.No começo, teremos uma retomada mais lenta, mas estamos confiantes que retomaremos ainda mais fortes. Isso porque eventos geram experiências, e as pessoas estão sedentas por isso — concluiu Menezes.
Fonte: Jornal Extra, escrita por Camila Pontes e Letycia Cardoso